Coronavírus
Governo brasileiro diz que
testará remédio que reduz carga de coronavírus em 93,4%
Ministro Marcos Pontes não divulga nome do medicamento,
disponível em farmácias, para evitar "correria" como no caso da cloroquina.
Especialistas criticam anúncio como "irresponsável" e contestam
métodos utilizados.
O
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) informou
nesta quarta-feira (15/04) que o governo federal testará em pacientes com
covid-19 um novo medicamento que, segundo o órgão, diminuiu em 93,4% a
carga viral em células infectadas pelo coronavírus Sars-Cov-2 em testes
realizados em laboratório.
Trata-se
de um medicamento aplicado no tratamento de outras doenças, cujo nome não foi
divulgado para evitar uma correria às farmácias, como ocorreu no caso da cloroquina,
segundo afirmou o ministro Marcos Pontes.
"Fiz
questão de não saber este nome para evitar uma correria em torno deste
medicamento, enquanto não temos certeza de que ele vai funcionar", disse o
ministro, citado pelo jornal Folha de S. Paulo.
Pontes
disse que o medicamento é desenvolvido por cientistas brasileiros e tem
formulação pediátrica, além de ser vendido a preço acessível e ter "muito
pouco efeito colateral". O secretário de Políticas para Formação e Ações
Estratégicas, Marcelo Morales, afirmou que há versões genéricas do medicamento
à venda nas farmácias.
Os
testes serão realizados em 500 pacientes em cinco hospitais militares no Rio de
Janeiro e outros dois em São Paulo e Brasília. Alguns desses pacientes
receberão um placebo, e nenhum deles sequer saberá o que está tomando. Todos
eles assinarão um termo de consentimento.
O
medicamento será aplicado em pessoas que deram entrada nos hospitais com
pneumonia, febre, tosse e tomografia com aspecto de vidro fosco. A duração dos
testes será de cinco dias, sendo que os pacientes permanecerão
internados em observação durante outros nove dias.
As pesquisas
sobre a aplicação do medicamento em pacientes com covid-19 foram realizadas por
pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em
Campinas, órgão vinculado ao MCTIC. Inicialmente, foram testadas em torno de 2
mil drogas já conhecidas e comercializadas, das quais seis foram consideradas
promissoras para a realização de testes in vitro.
Entre
estes, dois medicamentos reduziram de modo significativo a replicação do vírus
nas células. A droga que obteve os melhores resultados atingiu uma redução de
93,4% da carga viral, e será agora testada em pacientes infectados com
covid-19.
"Desserviço"
à população
Alguns
especialistas contestaram as informações divulgadas pelo MCTIC, afirmando que
os resultados de testes in vitro quase sempre não se confirmam em humanos.
"Os
cientistas fazem centenas, pra não dizer milhares, de testes in vitro. Quase
sempre todos são muito bem-sucedidos. É uma ferramenta primitiva que não dá
base para imaginar que isso possa funcionar em um organismo vivo", afirmou
o infectologista José David Urbaéz Brito, membro da Sociedade Brasileira de
Infectologia, ao portal de notícias UOL.
Brito
qualificou o anúncio de Pontes como "irresponsável" e um
"desserviço" à população, e criticou a ausência de testes do medicamento
em animais, o que, segundo os especialistas, seria uma etapa essencial do
processo, antes de serem realizados os testes em humanos.
"Nunca
se viu uma informação de tão baixa qualidade", criticou o infectologista.
"Notícias oportunistas têm um enorme impacto em um momento de medo
coletivo."
"Falar
que um remédio funciona in vitro não tem nada a ver com funcionar em rato ou em
humanos. É um passo muito distante entre uma coisa e outra", afirmou ao
UOL o pesquisador e professor de Medicina Intensiva da Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp) Luiz Fernando dos Reis Falcão.
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