O carro a
gasóleo e gasolina tem morte anunciada para 2040
Reino
Unido e França prometem acabar com os automóveis que sempre conhecemos em pouco
menos de duas décadas. A indústria já está bastante avançada. As cidades e as
políticas é que ainda estão a preparar-se.
26 de
Julho de 2017, 19:30
Foto
Pequim Reuters
A data da morte do carro de motor
a gasóleo e a gasolina está anunciada para 2040: o Governo britânico anunciou
que nesse ano deixam de poder ser vendidos automóveis que usem estes
combustíveis, com o objectivo de os fazer desaparecer completamente das
estradas britânicas nos dez anos seguintes.
Londres segue as
pisadas de Paris, que no início de Julho anunciou um plano para
acabar com os automóveis a gasóleo e gasolina até essa data. Mas, enquanto o
ministro francês da Transição Energética, Nicolas Hulot, prevê oferecer um
bónus aos contribuintes com menos meios económicos para que possam desfazer-se
do seu automóvel mais poluente e adquirir um carro eléctrico, híbrido ou
qualquer outra variante com menores consequências tanto para o efeito de estufa
como para a saúde das pessoas que vivem nas cidades – para substituir carros a
gasolina anteriores a 1997 ou a diesel anteriores a 2001 – no Reino Unido nada
disso está previsto.
O anúncio feito por Michael Gove,
o ministro do Ambiente britânico, peca pela sua insuficiência, dizem
associações de defesa do ambiente.
O Governo de Theresa May viu-se
obrigado a avançar com medidas para reduzir a poluição automóvel, porque foi
condenado pelo Supremo Tribunal britânico a reduzir os níveis de dióxido de
azoto, um poluente que faz parte dos fumos emitidos sobretudo pelos carros a
gasóleo. Em dezenas de cidades britânicas, o dióxido de azoto, que está
relacionado com uma série de doenças respiratórias, ultrapassa frequentemente
os níveis considerados seguros. O processo foi avançado por um grupo de
advogados preocupados com questões ambientais, denominado ClientEarth, e o
Executivo tinha de publicar nova legislação sobre poluição do ar até ao fim
deste mês para cumprir a decisão do tribunal.
Calcula-se que a má qualidade do ar esteja
relacionada com cerca de 40 mil mortes prematuras anuais no Reino Unido – isto
são números avançados pelo próprio Governo britânico. O mesmo acontece, de
resto, em França, que se viu obrigada a fazer da capital, Paris, uma zona de
circulação restrita, onde viaturas com matrícula anteriores a 1 de Janeiro de 1997
são impedidas de circular. Estima-se que o número de mortes prematuras em
França devido à poluição automóvel seja de 48 mil por ano.
França avançou com uma série de
iniciativas para promover o investimento dos fabricantes de automóveis em
combustíveis alternativos e, do lado do consumidor, formas para facilitar a
compra de veículos eléctricos – o principal obstáculo continua a ser o preço,
muito mais elevado, que faz com que nos EUA, por exemplo, representem apenas
cerca de 1% do mercado, e incentivos à utilização dos transportes públicos e
bicicleta. Mas o Reino Unido não.
É verdade que o Governo diz ter
40 milhões de libras para distribuir pelos 81 municípios britânicos mais
afectados pela poluição automóvel – que podem incluir soluções como “modificações
do traçado das estradas, alterar o combustível usado pelos transportes públicos
ou esquemas para encorajar as pessoas a deixar o carro em casa”. Mas não avança
propostas. Diz que terá mais pormenores daqui a uns meses, e que o dinheiro
para isso virá das alterações à fiscalidade sobre os veículos a gasóleo.
Mas o Executivo de Theresa May
recua perante a possibilidade de estabelecer zonas de circulação restrita, como
fez Paris. Desaconselha mesmo os municípios a tomar essa decisão – embora
reconheça que essa seria a forma mais eficaz de lidar com o problema de saúde
pública que se coloca actualmente.
“Este projecto do Governo enche o
olho, mas não estamos convencidos de que vá resolver, no imediato, os problemas
de falta de qualidade do ar”, disse Anna Heslop, advogada do ClientEarth,
citada pelo jornal Financial Times.
O director-geral da Aston Martin
mostrou-se igualmente crítico: queria apoios públicos aos fabricantes
automóveis para fazerem a transição para veículos mais limpos. “Se o Governo
vai legislar, também tem de apoiar, se não vai destruir parte da indústria.
Para competirmos, precisamos de produzir baterias. Mas estamos dez anos
atrasados em relação a qualquer fábrica de baterias da China”, queixou-se,
citado ainda pelo Financial Times.
Reviravolta em 2025
Mas a verdade é que os grandes
fabricantes não estão a perder tempo. Dois dias antes de o ministro francês
Nicolas Hulot ter revelado os seus planos para tirar os carros a diesel e
gasolina das estradas, a Volvo tinha feito tinir todas as campainhas, ao
anunciar que a partir de 2019 todos os novos modelos automóveis que lançaria
seriam eléctricos ou híbridos. Até 2021, todos os seus veículos serão
eléctricos. “É o fim do carro apenas com motor de combustão”, afirmou então o
director do construtor sueco, Hakan Samuelsson.
O escândalos das
emissões da Volkswagen deu novo impulso às empresas fabricantes de
automóveis para se concentrarem no desenvolvimento de novas tecnologias menos
poluentes, enquanto os políticos se viram cada vez mais pressionados por
activistas ambientais para banir a entrada nas cidades de carros a gasóleo,
cujas emissões contêm partículas poluentes relacionadas com problemas respiratórios,
cardíacos e outros.
“Por volta de 2025, prevejo que se dê a
reviravolta: os carros eléctricos devem começar a ultrapassar os veículos com
motor de combustão interna. É a essa tendência”, disse ao Guardian David
Bailey, um especialista em indústria automóvel da Universidade de Aston
(Birmingham).
Um relatório de Junho da Agência Internacional de Energia aponta
nesse sentido: em 2025, pode haver entre 40 e 70 milhões de veículos eléctricos
a circular. Mas há grandes diferenças entre países. O maior mercado para
veículos eléctricos é a China, onde há mais de 200 milhões de automóveis e 300
mil autocarros eléctricos. Mas é na Noruega que têm uma maior fatia do mercado:
29% dos veículos vendidos naquele país em 2016 eram eléctricos.
No entanto, para que a
substituição dos carros normais por carros eléctricos tenha alguma contribuição
real para limitar as alterações climáticas, será preciso que até 2040 haja 600
milhões a circular, retirando os velhos automóveis de gasóleo e gasolina das
estradas.
retirado do Publico pt
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