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domingo, 29 de maio de 2016

Como estará Detroid hoje?



Após êxodo e falência, Detroit ensaia 'ressurreição'
Kim Gittleson Da BBC News em Vancouver, Canadá
  • 7 fevereiro 2015




Outrora símbolo da indústria automotiva dos EUA, Detroit começa agora a dar sinais de recuperação




Em uma fria tarde de sábado, centenas de pessoas lotam o ginásio da Escola Secundária de Mumford, em Detroit. A imensa maioria delas tem em mãos papéis na cor laranja.
Elas estão aqui para comprar terrenos vazios localizados perto de suas casas por um valor módico: US$ 100 (R$ 278).

Trata-se de uma tentativa do novo prefeito, Mike Duggan, e do conselho municipal de encontrar novos donos para as dezenas de milhares de propriedades abandonadas pela cidade.

Os lotes vazios são uma das memórias mais dolorosas da classe média que prosperou em meio ao boom da indústria automobilística de Detroit.

Isso antes das demissões, que culminaram em centenas de milhares de pessoas abandonando a cidade. Como resultado, bairros inteiros ficaram "às moscas".


A americana Sheryl Shockley mostra documento de compra de imóvel abandonado ao lado de sua casa

Foi um êxodo sem precedentes. Desde 1960, a população da cidade caiu de 2 milhões de habitantes para os atuais 700 mil. E, quando se imaginava que nada de pior pudesse mais acontecer, há um ano e meio, as autoridades de Detroit declararam a cidade falida.
Mas com o placar eletrônico do ginásio da escola registrando o número de lotes vendidos, há uma sensação palpável aqui que aponta para um novo 'recomeço'.

A americana Sherry Shockley, moradora de Detroit, comprou um dos lotes. Há 15 anos, ela cuida do terreno abandonado ao lado de sua casa.

"Quando comecei a cuidar desse terreno, não havia árvores ─ agora, elas estão da mesma altura que edifícios", diz ela.

Sherry reconhece que os últimos anos têm sido difíceis, à medida que as finanças da cidade entraram em colapso e serviços básicos, como a polícia, sucumbiram à má administração crônica dos políticos locais.

"Lutei contra as gangues que queriam depredar a casa ao lado", conta.

"Tinha que sair na rua e gritar: "Vocês não vão danificar o meu bairro", relembra.

Mas hoje é diferente. "Tenho um sentimento de que há uma nova sensação de segurança na cidade."

 
Entre 1960 e 2015, Detroit perdeu mais da metade de sua população

Um ano e meio atrás, a outrora capital mundial da indústria automobolística americana parecia ter ficado sem combustível.

Detroit era uma cidade assustadora e escura ─ literalmente, uma vez que apenas 40% de todo o equipamento de iluminação pública funcionava.

A cidade se sentia abandonada – sensação compartilhado por aqueles que permaneceram, muitos dos quais encaravam a declaração de falência como uma tentativa do Estado de Michigan e dos credores da cidade de finalmente apagá-la do mapa.

Quando eu estive aqui no início do processo de falência em outubro de 2013, centenas de moradores tomaram as ruas, gritando "bancos resgatados, Detroit abandonada", em alusão à decisão do governo americano de socorrer instituições financeiras fortemente abaladas pela crise de 2008.

Sorte

Apesar de decretar falência, Detroit não precisou vender obras-primas de museu 

O juiz que presidiu o processo de falência, Steven Rhodes, considera um milagre a forma como Detroit superou o processo de falência evitando ter de fazer cortes draconianos em alguns benefícios sociais, como as pensões dos aposentados.

A cidade tampouco se viu forçada a vender ativos importantes como uma coleção de arte do Instituto de Artes de Detroit que inclui obras-primas de Matisse e Van Gogh.

Obviamente, Detroit está longe de seu apogeu em 1960 ─ e ninguém aqui acredita, em sã consciência, que a cidade voltará a ser o motor econômico do oeste dos Estados Unidos.

Mas, para alguns, o processo de falência deixou uma pergunta ainda não respondida.
No leilão de lotes, conheço Jan e Greg Frasier. O casal acaba de comprar os três lotes ao redor da casa onde Jan passou sua infância.

Embora impressionados com a iniciativa do novo prefeito, Greg não está certo de que a declaração de falência foi apenas uma "panaceia", como muitos dizem.

"As coisas não mudaram muito em Detroit ─ a única diferença, uma grande diferença ─ é que não temos poder decisório", diz Greg, referindo-se ao fato de que muitas das mudanças ocorridas após a falência não foram votadas pelos moradores da cidade.

 Há um ano e meio, sem dinheiro e endividada, Detroit decretou falência

Mas, para a maioria dos outros participantes do leilão, qualquer sinal de progresso ─ um governo municipal que está trabalhando pela primeira vez em muitos anos ─ é o suficiente.

Acompanhei Sherry até sua casa para ver o lote que ela havia acabado de comprar, onde outrora existia uma casa. Ela me disse com entusiasmo sobre o jardim que está planejando construir no espaço.

"Eu não vivo em Detroit por obrigação", diz ela.

"Estou aqui pela atmosfera da cidade. Eu amo morar aqui. Essa é a beleza de Detroit."
E, enquanto observa seu novo terreno, uma lágrima escorre de seu rosto.

É pouco provável que Sherry vá reconstruir a casa que existia ali.

Assim como é difícil imaginar que Detroit conseguirá reerguer-se completamente e voltar a ser a cidade que uma vez inspirou a admiração de muitos, um reflexo do chamado 'sonho americano'.

Mas um jardim é sempre um começo promissor.

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